Joselma Chaves[2]
Este
desenvolvimento que deveria integrar e favorecer a região amazônica acabou por
acentuar mais os preconceitos e desigualdades.”
A Amazônia é uma região
ainda (apesar da grande exploração) extremamente rica em recursos naturais. No
entanto, está sendo explorada de forma desordenada e desestruturada, segundo um
modelo desenvolvimentista elaborado desde o final do século passado pelo
Governo Federal. Esse modelo foi
implementado e aplicado sem atentar para a heterogeneidade e biodiversidade da
região, visando apenas a atrair grandes capitais estrangeiros interessados em
explorar somente determinadas recursos ambientais. Desta forma, as políticas
públicas voltaram-se unicamente para atender a instalação e funcionamento dos
grandes projetos, vilipendiando o povo da região e suas formas tradicionais de
exploração e conservação da Floresta Amazônica.
A onda de desenvolvimento da
Amazônia surgiu com a necessidade de integrar a região ao restante do país. Na
segunda metade do século XX, o processo de desenvolvimento da região visava
restringir a desigualdade interregional em que a Amazônia estava inserida.
Porém, acabou por aumentar as desigualdades intrarregional a favor de um grande
crescimento econômico da região. Isso se deu porque o processo de integração
criou, segundo o professor Sérgio Bacury[3], subespaços geográficos em termos
de desenvolvimento. Nesses subespaços foram e são exploradas determinadas
atividades para atender a demanda do mercado internacional.
Esse plano de progresso da
região, através dos investimentos em grandes projetos de exploração, causou uma
concentração de desenvolvimento apenas em determinadas regiões em detrimentos
de outras que não receberam nenhum tipo de incentivo para a sua inserção na
dinâmica econômica nacional. Assim, o professor Sergio Bacury classifica os “três
grandes eixos dinâmicos na Amazônia”[4]: o Polo Industrial de Manaus; os Polos
Minerais do Pará; e o Polo agropecuário, com predominância no estado do Mato
Grosso. Esses são os grandes “polos de modernidade”[5], que se concentram
principalmente em suas capitais, marginalizando e acentuando a pobreza das
outras regiões que não conseguiram se integrar nesse processo desigual em
termos setoriais e espaciais.
Esse desenvolvimento oblíquo
da Amazônia não afeta somente seu ecossistema, mas também o povo que mora na
região, principalmente aqueles que vivem na periferia desse desenvolvimento. Esses
amazônidas constituem maioria povos tradicionais que sobrevivem da floresta por
meio do extrativismo, e são vistos com preconceito diante dos grandes projetos
de exploração que visam ao desenvolvimento nacional e não se preocupam com o
regional. A exploração tradicional e familiar na Amazônia não é valorizada e
muito menos estimulada. A ausência de políticas públicas que ajudem as regiões
marginalizadas e que sobrevivem desse tipo de atividade faz com que esses povos
se vêem obrigados a deixar suas terras tradicionais e tentar nos grandes polos
de desenvolvimento. Quase sempre vão morar nas periferias desses grandes
centros urbanos que estão cada vez mais inchados. A população, de um modo geral, não se
beneficia da exploração da floresta, ficando apenas com os ônus deixados pela
exploração predatória dos grandes projetos. Este desenvolvimento trouxe como
consequência mais perdas e danos em termos humanos e ambientais para a região
do que qualquer outra coisa.
Não houve qualquer estudo
acerca dos impactos sociais e ambientais, quando se empreendeu esse voraz
desenvolvimento. Portanto, o conceito de sustentabilidade era desconhecido.
Atualmente, representa uma garantia à permanência da Amazônia como grande
reserva ambiental em que pese uma diversidade ímpar, por isso é de sobremaneira
visada internacionalmente, ora como reserva ambiental que precisa ser
conservada e protegida, ora como simples objeto de exploração econômica.
Usando as palavras da
professora Violeta Loureiro, “se a Amazônia tem gerado riqueza, a riqueza não
se vê e nem se fixa nela”[6], o que se vê são os grandes bolsões de pobreza e
abandono como rastros da grande exploração predatória. Este desenvolvimento que deveria integrar e
favorecer a região amazônica acabou por acentuar mais os preconceitos e
desigualdades.
Por isso, torna-se
imprescindível ampliar a reflexão de como foram e de como estão sendo
explorados os recursos naturais encontrados na Amazônia. Faz-se necessário uma
discussão respeitosa quanto ao uso desse grande complexo ambiental e cultural
no que tange ao desenvolvimento de forma sustentável da região, de modo a
garantir integração econômica e social da região e do seu povo ao restante do
país.
______________________________________________________________
[1] Houve uma mudança na linha de pesquisa
do Observatório. Trabalharemos com a questão do desenvolvimento humano
econômico na Amazônia, pautando este desenvolvimento em um aspecto
específico que é a garantia do direito humano à educação na região. Este é um
post introdutório, que servirá de base para entendermos a educação na região.
[2]
Estudante de Direito da Universidade Federal do oeste do Pará e integrante do
Projeto Educação Básica: Direito Humano e Capital Social na Amazônia Paraense.
[3] LIRA,
Sérgio Roberto Bacury de; SILVA, Márcio Luiz Monteiro da; PINTO, Rosenira
Siqueira. Desigualdade e heterogeneidade no desenvolvimento da Amazônia no
século XXI.Nova econ. [online]. 2009, vol.19, n.1, pp.
153-184. ISSN 0103-6351.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-63512009000100007. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512009000100007>.
Acesso em: 02 mai. 2012.
[4] _____________.
Desigualdade e heterogeneidade no desenvolvimento da Amazônia no século XXI.Nova
econ. [online]. 2009, vol.19, n.1, pp. 153-184.
ISSN 0103-6351. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-63512009000100007. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512009000100007>.
Acesso em: 02 mai. 2012; p.158.
[5] _____________.
Desigualdade e heterogeneidade no desenvolvimento da Amazônia no século XXI.Nova
econ. [online]. 2009, vol.19, n.1, pp.
153-184. ISSN 0103-6351.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-63512009000100007. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512009000100007>.
Acesso em: 02 mai. 2012; p. 158.
[6] LOUREIRO, Violeta
Refkalefsky. Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a
(re)construir. Estud. av. [online]. 2002, vol.16, n.45,
pp. 107-121. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142002000200008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000200008>
. Acesso em: 02 mai. 2012; p. 108.
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