sábado, 19 de maio de 2012

Educação no Brasil: a desconstrução do conceito de educação emancipacionista e seus efeitos nocivos à realidade social brasileira - Parte I (Introdução)


por Alexandre Marialva[1]

Chegamos ao séc. XXI com um desenvolvimento intelectual esplêndido, um nível de riqueza nunca antes visto e uma grande facilidade de circulação de ideias ao redor do planeta e, no entanto, padecemos de problemas sociais seculares incompatíveis com o estado de evolução da sociedade atual.


O conceito de desenvolvimento hoje praticado se encontra agregado a aspectos puramente econômicos, baseado em índices como o PIB, que divido per capita, mostra o grau de riqueza alcançado por seus habitantes. Contudo, a simples observância de índices sociais evidencia que, em muitos países, há uma contradição muito forte ao se confrontar níveis econômicos com a condição social de suas populações.

O Brasil não deixa de se enquadrar em tal situação, tendo em vista a análise de seu PIB e a taxa de desigualdade na distribuição de renda, que demonstra que é um país rico com, no entanto, uma riqueza muito mal distribuída.

A subserviência do ideal de modelo de desenvolvimento praticado pelo órgão estatal brasileiro aos ditames de um sistema econômico internacional baseado na exploração de países em detrimento de outros, aliado às décadas de baixíssimos investimentos públicos em setores sociais, acarretou profundas consequências no quadro social do país, como a má distribuição de renda, crises de fome (em um dos países que mais produz alimentos no mundo), o enfraquecimento da educação pública em paralelo ao crescimento do sistema privado, entre outros.

Diante do neoliberalismo, a educação ganhou uma nova roupagem, adquirindo uma nova função em favor do sistema econômico, e se distanciando da ideia de “educação como emancipação”, proposta por pensadores do porte de Immanuel Kant, Theodor Adorno, entre outros.

Perpetua-se o conceito de educação a serviço da economia, e não como instrumento de emancipação humana.

Nesse sentido, surgiram vários fenômenos que modificaram o caráter da educação, elencando-se como principais a questão do tecnicismo e da mercantilização do ensino superior.

O que deveria ser direito, passou a ser mercadoria, bem a ser comprado no mercado, conforme o poder aquisitivo de cada um. A educação, que deveria diminuir as desigualdades originais das nossas sociedades, passou a multiplicá-las. A política de cotas – especialmente a partir do projeto de lei do governo federal, que reserva 50% da vagas de universidades públicas aos estudantes originários de escolas públicas – minora um pouco essa situação, se, resolvê-la.[2]

Torna-se importante, então, entender o processo de desconstrução do conceito de educação como emancipação humana e inclusão social, para sua transformação em "bem de mercado", além de estudar os efeitos nocivos dessa mentalidade do Estado em face à realidade social brasileira.

[Continua...]

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[1] Estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará, e integrante do Projeto Educação Básica: Direito Humano e Capital Social na Amazônia Paraense.
[2] http://universidadeparaquem.wordpress.com/2009/11/10/emir-sader-saia-curta-e-privataria/

REFERÊNCIAS:
  • ADORNO, Theodor W. / HORKHEIMER, Max - A Dialética do Esclarecimento. Disponível aqui.
  • KANT, Immanuel - O Que é o Esclarecimento - disponível aqui.
  • OLIVEIRA, Paulo César de. EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: Reflexões a partir da filosofia de Theodor Adorno. Disponível aqui.;
  • MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. (Intervenção na abertura no Fórum Mundial de Educação, Porto Alegre, Brasil, 28/Jul/2004. Disponível aqui).


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