sábado, 13 de outubro de 2012

História de Belterra e o Desenvolvimento da Amazônia - Parte 2


       
 Paulo Lira [1]



A primeira tentativa de implantar uma produção ordenada de seringa na Amazônia fracassou por vários motivos em Fordlândia. Então em 1934 a comissão administrativa da Ford conseguiu do Interventor Magalhães Barata autorização para permutar uma área de Fordlândia, por outra de igual superfície medindo 281.500 hectares que se constitui a Vila de Belterra. Em Belterra a Companhia Ford desmatou oito mil hectares, plantou 3,2 milhões de pés de seringueiras, construiu mais de 300 casas, hospital, oficinas, escolas, serviço de água, luz e esgoto e instalações industriais. 


Atraídos pela grande estrutura construída pelos americanos muitos moradores da região foram até Belterra em busca de um emprego. A implantação deste enorme empreendimento foi comemorada porque, em tese, traria desenvolvimento-humano e prosperidade para região. E para que o projeto tivesse êxito era necessário um “exercito de homens” e para isso a Ford como forma de divulgar as ofertas de empregos anunciava em jornais locais como o Jornal de Santarém de número 129, de 30 de outubro de 1943 (AMORIM 1995, p.50)[2]

Segundo o anúncio deste jornal além de salários preestabelecidos e da comercialização de gêneros alimentícios a preço fixos, a Companhia Ford ainda fornecia gratuitamente aos seus empregados e a todas as pessoas de sua família: “habitação, assistência médica, hospitalar, farmacêutica e dentaria uniformes, livros, e outros materiais escolares, creche para os filhos de mulheres que quisessem trabalhar e até mesmo cinema que era apresentado duas vezes por mês”. Esta notícia se espalhou na região despertando nas pessoas sentimentos de dias melhores. 

Porém as vantagens oferecidas não eram cumpridas como o prometido no anúncio. As moradias oferecidas obedeciam a um determinado estilo e padrão, dependendo da categoria do funcionário dentro da empresa. Sendo que, as melhores moradias ficavam na Vila Americana estas pertencentes aos administradores da empresa Ford visto que possuíam confortabilidade, higienização, iluminação, água canalizada e escoamento por meio de fossas sanitárias.

A realidade para os trabalhadores do campo da companhia era outra, como afirma Gastão Cruls apud Antonia Terezinha (1995, p. 59)[2]:
O tipo de moradia que a companhia oferecia para os seus trabalhadores em Belterra, ou eram miseráveis palhoças, muito diferentes do que poderia supor o anúncio que os havia atraído, pelos quais pagariam $ 30.000 de aluguel mensal, ou em barracões de madeira coberto de palha, nos quais cabiam 50 homens cada um, situados no pé da serra.

A autora Antônia Terezinha relata ainda que quando se tratava da assistência médica hospitalar, farmacêutica e dentaria oferecida para atrair os trabalhadores à situação de desigualdade não era diferente. De fato não se podia negar a grande estrutura do hospital considerado o maior do Pará, mas é de se discutir a igualdade no tratamento, pois uns poucos eram administradores e a maioria eram trabalhadores braçais. Continua.

               
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[1] Estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará, e integrante do Projeto Educação Básica: Direito Humano e Capital Social na Amazônia Paraense.
[2] Dos Santos Amorim, Antônia Terezinha. A dominação norte americana no Tapajós: A companhia Ford Industrial do Brasil.

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