Paulo Lira [1]
A primeira tentativa de implantar uma
produção ordenada de seringa na Amazônia fracassou por vários motivos em
Fordlândia. Então em 1934 a comissão administrativa da Ford conseguiu do
Interventor Magalhães Barata autorização para permutar uma área de Fordlândia,
por outra de igual superfície medindo 281.500 hectares que se constitui a Vila
de Belterra. Em Belterra a Companhia Ford desmatou oito mil hectares, plantou
3,2 milhões de pés de seringueiras, construiu mais de 300 casas, hospital,
oficinas, escolas, serviço de água, luz e esgoto e instalações industriais.
Atraídos pela grande estrutura
construída pelos americanos muitos moradores da região foram até Belterra em
busca de um emprego. A implantação deste enorme empreendimento foi comemorada
porque, em tese, traria desenvolvimento-humano e prosperidade para região. E
para que o projeto tivesse êxito era necessário um “exercito de homens” e para
isso a Ford como forma de divulgar as ofertas de empregos anunciava em jornais
locais como o Jornal de Santarém de número 129, de 30 de outubro de 1943 (AMORIM
1995, p.50)[2]
Segundo o anúncio deste jornal além de
salários preestabelecidos e da comercialização de gêneros alimentícios a preço
fixos, a Companhia Ford ainda fornecia gratuitamente aos seus empregados e a
todas as pessoas de sua família: “habitação, assistência médica, hospitalar,
farmacêutica e dentaria uniformes, livros, e outros materiais escolares, creche
para os filhos de mulheres que quisessem trabalhar e até mesmo cinema que era
apresentado duas vezes por mês”. Esta notícia se espalhou na região despertando
nas pessoas sentimentos de dias melhores.
Porém as vantagens oferecidas não eram cumpridas como o prometido
no anúncio. As moradias oferecidas obedeciam a um determinado estilo e padrão,
dependendo da categoria do funcionário dentro da empresa. Sendo que, as
melhores moradias ficavam na Vila Americana estas pertencentes aos
administradores da empresa Ford visto que possuíam confortabilidade, higienização,
iluminação, água canalizada e escoamento por meio de fossas sanitárias.
A realidade para os trabalhadores do
campo da companhia era outra, como afirma Gastão Cruls apud Antonia Terezinha (1995, p. 59)[2]:
O
tipo de moradia que a companhia oferecia para os seus trabalhadores em
Belterra, ou eram miseráveis palhoças, muito diferentes do que poderia supor o
anúncio que os havia atraído, pelos quais pagariam $ 30.000 de aluguel mensal,
ou em barracões de madeira coberto de palha, nos quais cabiam 50 homens cada
um, situados no pé da serra.
A autora Antônia Terezinha
relata ainda que quando se tratava da assistência médica hospitalar,
farmacêutica e dentaria oferecida para atrair os trabalhadores à situação de
desigualdade não era diferente. De fato não se podia negar a grande estrutura
do hospital considerado o maior do Pará, mas é de se discutir a igualdade no
tratamento, pois uns poucos eram administradores e a maioria eram trabalhadores
braçais. Continua.
[1] Estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará, e integrante do Projeto Educação Básica: Direito Humano e Capital Social na Amazônia Paraense.
[2] Dos Santos Amorim, Antônia Terezinha. A dominação norte americana no Tapajós: A companhia Ford Industrial do Brasil.
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