Paulo Lira [1]
Em um país como o Brasil marcado por disparidades sociais e
mazelas, infelizmente a educação e o modelo de desenvolvimento estão subordinados ao
capitalismo. Ainda mais quando se trata do desenvolvimento da Amazônia. Esta é uma floresta tropical com área de 5 500 000 km² que se estende pela América
Latina e que possui um dos maiores rios do mundo e uma multiculturalidade enorme.
Mas apesar de tudo, não possui a sua independência de como produzir desenvolvimento, de como
promover o social e construir um modelo educacional que caminhe lado a lado com
o seu capital social.
O sistema mundial caminha sobre os passos e moldes do capitalismo, um sistema que
privilegia o consumo e que torna o conhecimento uma mercadoria. E de forma
arbitrária tudo contribui para o avanço das vontades e necessidades desse
sistema dominador. Então se percebe que os modelos educacionais implantados no
Brasil e no mundo assumem posturas que levam a promoção do desenvolvimento,
baseado no consumo, tornando a educação um instrumento do mercado. Educação
como um bem do mercado.
Para
José Bittencourt da Silva [3] “..Existem atualmente duas posturas bem definidas
quando se tratava da promoção do desenvolvimento de uma coletividade : uma
legitima o Status quo vigente e que,
dentre outras coisas, aposta na força do mercado, na competividade, na
capacidade inovadora dos indivíduos e no avanço técnico - científico como
principais motores do progresso humano. O outro modo de percepção do sentido do
desenvolvimento pressupõe que as
melhorias sociais advêm de idéias e praticas assentadas, preferencialmente, em aspectos sociais e humanos, tais como: democracia, liberdade, participação,
cidadania, sentimento comunitário, aceitação das diferenças com conduta ética
que respeite as características étnicos-raciais dos povos, seus saberes e
modos de vida”.
A
partir dessa percepção, é evidente que existe um confronto entre o mundo do
capital que privilegia o mercado e os que defendem os aspectos sócio-humanos
como fundamento para o desenvolvimento. Para Perrot, Marie Dominike (1994, p.
194)[3] ”...o desenvolvimento é, então, esse imenso movimento planetário de
transformações das relações sociais, das reservas naturais, em capital
financeiro pela via do mercado mundial. A fim de chegar-se a esse resultado,
foi necessário expropriar-se inúmeras vezes grupos e indivíduos de suas
relações sociais, de suas redes inter pessoais, de suas reservas, de seu saber
local. O desenvolvimento nesta ótica realista e não normativa, é antes de tudo uma
relação social de dominação”.
É exatamente por isso que os modelos educacionais estabelecidos na Amazônia não devem estar baseados no modelo de mercado, mas no capital social da Amazônia para evitar um processo de dominação da sua população que vem se concretizando através dos ciclos econômicos como: da exploração da força de trabalho dos Índios, da comercialização das drogas do sertão, extração da borracha, retirada do ouro , e atualmente da energia elétrica.
Segundo Violeta Loureiro [2] “Ao
longo da História a Amazônia tem gerado sempre mais recursos para fora
(metrópole e federação) do que tem recebido como retorno; tem sido,
permanentemente, um lugar de exploração, abuso e extração de riquezas em favor de
outras regiões e outros povos. Mesmo nos últimos trinta anos, quando grandes
investimentos foram feitos em infra-estrutura, estes visaram possibilitar a
exploração de riquezas em favor da federação”.
Amazônia
é vista como canal de riquezas onde se explora e em seguida abandona-se. Um exemplo
disso é a cidade de Belterra no Pará que foi
utilizada para implantação de um projeto ousado, baseado nos moldes do
capitalismo, para a produção em larga escala de seringa, mas devido ao
insucesso do projeto, a cidade foi abandonada pela Companhia Ford. E ao final
não sobrou nenhum desenvolvimento ou qualquer perspectiva de uma vida digna
para sua população.
Do modo
como as políticas públicas (com ênfase para a educacional e a econômica) governamentais são
implantadas na região amazônica nos leva a inferir que o povo da Amazônia
parece não ser digno da sua riqueza e que esta população não passa de selvagens,
caboclos, com cultura primitiva que não sabem explorar as sua riquezas (visão
dos primeiros colonizadores). Por esse motivo todo o desenvolvimento econômico
e políticas públicas passam pela exclusão da coletividade local. É por esta constatação que o desenvolvimento da Amazônia e o
modelo educacional implantados não devem estar alinhados com a perspectiva dos governantes,
gestores e empreendedores do capital. Mas para um desenvolvimento a partir dos amazônidas
para o resto país e do mundo. E para isso é necessário capacitar, qualificar,
educar, e dar oportunidade para povo da Amazônia da mesma forma que é oferecida
ao grande capital.
Para Putnam, Robert D. (1996)[3] “capital social refere-se ao
conjunto de normas de confiança mútua, às redes de cooperação, aos mecanismos
de sanção e às regras de comportamento
que podem melhorar o comportamento da sociedade, na solução de problemas que
exigem uma ação coletiva”.
A partir
do momento que o capital social torna-se uma realidade ele estimula os
indivíduos a participarem de associações democráticas, criando redes de confiança
e de compromisso e construção de vínculos de reciprocidade cooperação e
solidariedade. Quanto mais forte for a ligação da população com o seu capital
social integrando este a sua educação e desenvolvimento econômico maior serão
as condutas, os contatos sociais, as iniciativas pessoais suscetíveis de aumentar
o desenvolvimento social, político, econômico de toda coletividade amazônica. Ou
seja, o capital social e educação como instrumento de libertação do modelo
capitalista. Possibilitando a coletividade pensar no
seu desenvolvimento, na sua maneira de educar.
Segundo
Paulo Freire a educação gera um processo de emancipação, uma libertação. Deste
modo, deduz ser esse o motivo de uma educação de baixa qualidade na Amazônia e desconectada
das características da região, gerando um apartheid de desenvolvimento para os caboclos da Amazônia. Pois
quanto menos educados e mais aculturados mais fácil será dominar os povos da
Amazônia para explorar os recursos naturais, mantendo o velho esquema de
divisão de trabalho onde a Amazônia é a fonte de matéria prima (e somente isso),
o nordeste força de trabalho e sul/sudeste como parque industrial. Desse modo,
um desenvolvimento para o capital sem um desenvolvimento para os amazônidas.
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[1] Estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste
do Pará, e integrante do Projeto Educação Básica: Direito Humano e Capital
Social na Amazônia Paraense.
[2] LOUREIRO, Violeta Refkalefsky.
Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re) construir. Estud. av. vol.16 no. 45 São
Paulo May/Aug. 2002.
[3] DA SILVA, José Bittencourt. Desenvolvimento, Capital Social, Educação E Populações Do Campo Na Amazônia paraense.
REFERÊNCIAS:
LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re) construir. Estud. av. vol.16 no. 45 São Paulo May/Aug. 2002. Disponível aqui.
DA SILVA, José Bittencourt. Desenvolvimento, Capital Social, Educação E Populações Do Campo Na Amazônia brasileira. Disponível aqui.
- GERALDES, Mary Ângela; ROGGERO, Rosemary. Educação e diversidade: demandas do capitalismo
contemporâneo.Educ. Soc. Vol.32 no.
115 campinas apr./june 2011. Disponível
aqui.